Manchas Vermelhas.
As pessoas olham enojadas, desconfiadas, fingem não olhar mas eu sinto os olhares.
Em fazendo os exames, a clínica perplexou-se toda ao notar a arte neo-pontilhista na qual se tornou meu corpo. Deveria ter me levantado e apresentado minha doença (ou ao menos as desconfianças) a todos, quiçá assim poderiam livrar-me dos olhares perscrutadores, dos cochichos... do assombro de ter me tornado objeto de horror e asco, de temor e repulsa, afinal, meus sintomas estavam às vistas de todos, diferentemente dos deles, que deveriam estar doentes também, a menos que fizessem acompanhamento do 'status sanguíneo', nunca se sabe...
Em todo caso, se nossos sintomas não estão expostos, somos todos normais, não? Percorro o saguão com os olhos, e ao passo em que olho seus olhares se dissipam... como se a real indiferença do mundo para com a minha existência, que por segundos fora abandonada, retornasse triunfante sobre minha pele em polvorosa, empolada, rósea. Nem me atrevi a ceder às coceiras, pois senão estaria concedendo-lhes um aumento inoportuno do prazer de poder comentar mais isso.
Incrivelmente as pessoas que não estavam na clínica, desde o balconista da padaria até as pessoas no ônibus, no transporte público, foram mais discretas ou simplesmente não se preocuparam em observar. As pessoas doentes parecem sempre interessadas em buscar doenças piores que as delas, talvez para se conformar com suas debilidades momentâneas, talvez para se orgulhar de não estar 'naquele estado'. E muitos por vezes apresentam aquele interesse ilusório, falsos olhares de comiseração... Espero que a transmissibilidade de minha doença naquele momento tenha se reforçado, assim todos dentro de dias saberão como é ao mesmo tempo constrangedor e enriquecedor (por oposição) ser notado não como ser humano, mas como objeto. Objeto de 'temor', objeto de pena... ou de um simples interesse científico-bisbilhoteiro...
Com certeza essas manchas vermelhas me ensinaram alguma coisa... Realmente importam os olhares daqueles olhos... olhos não se preocupam com a transmissibilidade (possível) da doença, olhares enternecedores e suavizantes... Os olhos dos olhares mais amáveis, dos olhares mais amados.
(Quando souber o que tenho estarei curado. Obterei os resultados dentro de 5, 7 dias. Até lá não haverão manchas ou dores ou coceiras... Espero.)
Em todo caso, se nossos sintomas não estão expostos, somos todos normais, não? Percorro o saguão com os olhos, e ao passo em que olho seus olhares se dissipam... como se a real indiferença do mundo para com a minha existência, que por segundos fora abandonada, retornasse triunfante sobre minha pele em polvorosa, empolada, rósea. Nem me atrevi a ceder às coceiras, pois senão estaria concedendo-lhes um aumento inoportuno do prazer de poder comentar mais isso.
Incrivelmente as pessoas que não estavam na clínica, desde o balconista da padaria até as pessoas no ônibus, no transporte público, foram mais discretas ou simplesmente não se preocuparam em observar. As pessoas doentes parecem sempre interessadas em buscar doenças piores que as delas, talvez para se conformar com suas debilidades momentâneas, talvez para se orgulhar de não estar 'naquele estado'. E muitos por vezes apresentam aquele interesse ilusório, falsos olhares de comiseração... Espero que a transmissibilidade de minha doença naquele momento tenha se reforçado, assim todos dentro de dias saberão como é ao mesmo tempo constrangedor e enriquecedor (por oposição) ser notado não como ser humano, mas como objeto. Objeto de 'temor', objeto de pena... ou de um simples interesse científico-bisbilhoteiro...
Com certeza essas manchas vermelhas me ensinaram alguma coisa... Realmente importam os olhares daqueles olhos... olhos não se preocupam com a transmissibilidade (possível) da doença, olhares enternecedores e suavizantes... Os olhos dos olhares mais amáveis, dos olhares mais amados.
(Quando souber o que tenho estarei curado. Obterei os resultados dentro de 5, 7 dias. Até lá não haverão manchas ou dores ou coceiras... Espero.)