7 de out. de 2007

Sobre.

Não é que simplesmente ignore tudo o que ouça. Sempre fui dado à solidão... É melhor. Tem umas pessoas que são tão importantes que duas ou três palavras suas podem me fazer ruir, como uma bola de sorvete se desmanchando docemente na areia;

Nunca trouxe um amigo a minha casa; Aqui, onde resido desde 2002, nem na anterior, nem na outra, nem na outra. Me acostumei a estar sozinho. Parece um tanto contraditório de minha parte, visto que estou sempre meio rodeado de gente, e quando não estou procuro pessoas para me envolver em seus papos... No entanto um espírito comunicativo não significa exatamente um espírito 'acompanhado' ou 'acompanhável'. Tenho uma certa individualidade que... uma necessidade de um pouco de silêncio.

Quando estou sozinho posso ponderar as palavras que falo para mim mesmo. Crio estratagemas das coisas que nunca vou fazer... Teorizo o mundo sem preocupação com a dialogicidade: Ela sempre existe comigo mesmo. Teço diálogos que nunca vão ocorrer com tanta realidade que certas palavras chegam a ressoar em meus ouvidos... Penso em sorrisos que me acompanham mesmo que não tenham sido direcionados a mim, penso em sonhos nos quais os diálogos mais aprazíveis acontecem e me deleito. O sonho, este também é meu espaço (mesmo não tendo domínio sobre ele). Me sinto um Bobby com seu fantástico mundo... E os balõezinhos que brotam sobre minha cabeça são cada dia maiores... Abarcam o mundo. Abarcam os céus.

Tantas foram as vezes em que ouvi coisas as quais não me interessavam, que não correspondiam à minha verdade, ao meu mundo... Fui depurando. Certa vez foi falado em aula sobre a necessidade de algumas pessoas em reafirmarem-se como únicas conhecedoras de si mesmas... E sou tão assim! Não adianta vir me dizendo um "te conheço", "já passei por algo igual" ou "te manjo". Eu vou acabar tendo que te provar que não, você não me conhece, você não me entende, você não sabe como eu penso. Talvez venham daí os meus problemas com relação aos pensamentos de grupo. Me aproximo do geralista, normalmente, buscando manter o individual. Gosto de flutuar por entre as facções e ter o meu pensamento individual... E por diversas vezes acabo me afastando de grupos... Me reafirmo, por negação... Prefiro me afastar a ser abandonado... E é difícil ceder ao afastamento em busca do não-abandono. Me apego a mim mesmo. Tapo esse buraco com uns desenhos em tons frios, com textos sem serifas, muitas arestas, poucos leitores...

Imagino brotar um sorriso complacente naquele rosto, se lesse isso...

Sinto uma falta enorme. E é uma falta tão enorme que nem sei exatamente de quê. Vejo só uma tênue sombra... Mas já não sei se é sombra do mundo pensado, se é do que vejo, se é algo sonhei, teorizei, inventei... Queria que tivesse sonhado, mas acho que não é. Se fosse um sonho poderia ser uma premonição... E delas eu não posso fugir.

3 comentários:

D ... disse...

hum... começou com aquela voz "eu me basto. eu me dou bem comigo". terminou com um tom melancólico... J. diria: "quer pegar na minha mão?" se ela não tivesse ido embora e nos deixado chorando.

Unknown disse...

eu responderia: porque não perguntou antes?

...

Anônimo disse...

[se você quiser apagar esse comentário depois, não ligarei]

É, realmente, você sempre foi um sozinho com muitas pessoas ao seu redor. Já nem sei se posso dizer que um dia te conheci.
É isso que me instiga a querer conversar com você, te descobrir a cada conversa, mesmo que seja pelo telefone.
E é algo também que nunca entendi, essa sua predileção pela solidão, eu que sempre sou tão carente. Mas respeito. É o que me resta.

Adoro seus textos.

[sim, um comentário sem reticências, sem carinhas felizes e outros recursos por mim utilizados]

Maíra.