21 de out. de 2007

Diagonal

Preciso de um espelho para melhor encontrar as cores nas quais vou me camuflar de mim mesmo, dentro de minha própria pele, opressora. Passarei horas e horas em frente a esta máscara, me reinventando. Enganarei meus olhos com minha própria pele, influenciarei minha visão, subverterei minhas retinas, meu cérebro, até que suma de minhas vistas essa imagem estranha a mim mesmo. Olharei e me deliciarei ao não ver. Essa pele é dolorosa. Os olhos se arrepiam e gelam em repulsa disso, que não sou eu.

Quando chegar a noite, a sombra cobrirá o banheiro branco, o espelho manchado, a pia, o sanitário. Fundirá o espaço.

Me estendo. Já não caibo no espelho. Ele se parte e seus cacos se espalham. Me descamuflo nessa fusão do que sou, sinto, quero. Frágil, recolhem os cacos. Embrulham num jornal. Nos embolam num saco. Um caco agarra minha garganta. Diagonal. Lento. Rasga a casca, funde ao interno: Fundo. Rasga minha pele. Meus olhos. O rasgo é um escape. Fluo. O interno recobre o externo, o espelho acessa o interno. Reconheço nos cacos cacos de mim. No reflexo do fluxo o próprio espelho se reconhece: Sou ele.

8 comentários:

Felipe disse...
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Maíra Scalco disse...

Eu prefiro sentir o texto do que comentá-lo.
Sinto que é um momento de mudança. Pelo menos do layout do blogue!

Bjo,

Má.

Unknown disse...

Engraçado...a sensação de explosão...
se vc não cabe mais no espelho, ele se rompe, e vc está refletido em todos os cacos...
é aquela coisa que eu disse de se estar clautrofobico dentro da propia pele. Na verdade vc está sufocado, tanto, parece que entra tanto ar nos pulmoes que vc explode...
or ar vem de fora, do mundo, penetra em vc de um jeito tão violento que seu corpo não suporta, e ai explode.

Quantas vezes é preciso explodir?
QUantas vezes a gente se reconstrói?
Dificil dizer,

O Texto me tocou, fortemente.

Myriam Kazue disse...

Se estivéssemos nos anos 70, depois de ler o poema escrito a quatro mãos e este texto, diria que vcs dois - Di e Fe - tomaram um ácido um pouquinho mais forte que o acetil salicílico.

[brincadeira... mas esse texto é bem 'lisérgico'!]

beijos aos meus poetas!

Thalita disse...

Lindo!
=)

Babi disse...

Tem uma uma música da Jewel que diz "outrun my skin and be pure wind"... pena que eu nunca fui boa de corrida...

Anônimo disse...

Fer,
Nossa...sem palavras primeiro para agradecer o seu comentário em meu blog! Fico feliz que ele de alguma forma, faça as pessoas pensarem, sonharem, se encontrarem. Pq eu me encontro em cada uma das citações...

E agora falar do seu texto... nossa, é lindo! Magnífico como me fez imaginar todo o momento, esse momento de encontro e desencontro, de ser ou não ser, de dizer a verdade para si mesmo e mentir, achar e esconder. Muito lindo mesmo! Obrigada também por me trazer até aqui.

Bjos,
Ly

Anônimo disse...

Caramba! Eu me identifiquei com esse texto...
GOSTEI MUITO!

Beijos,
Mari.