29 de jul. de 2007

Inversão.

Estávamos muito bem. (explosão...) Apesar do frio, do gelo, da névoa, estávamos bem. Apesar da falta de dinheiro, do abandono, da solidão, estávamos bem. Dançamos na sala. Mesmo com todo o frio e empacotados, dançávamos na sala. Era uma alegria simples e bonita de se ver. Ela sorria sinceramente, um sorriso daqueles onde o rosto inteirinho ri, não somente a boca amarelamente ou os olhos falsamente. Meu preferido, o conjunto: Sinceridade. Esse é o soriso-de-sempre de minha mãe. Não sobra espaço pra outros tipos de sorriso nela. Eu tentava fazer com que ela não telefonasse. Não telefonasse... Não telefone! Insistiu, ligou.

O frio, o gelo, a névoa, a falta de dinheiro, o abandono, a solidão, a hipocrisia. Todos venceram nossa alegria após o telefonema. Coitado do interlocutor. Pobres de nós. E viva os Egos Indestrutíveis e o Individualismo Barato! Mentira. Agora o que nos toma, a mim e a ela, mais uma vez, e como tem sido comumente, é a tristezazinha de sempre... Graças à hipocrisia, às inversões, aos telefonemas. Quisera eu não ter telefones. Interlocutores. Aniversários. Visitas. Domingos. Inversão! Podia ser só o frio. Um Cobertor. Um Minestrone. Um Chocolate. Uma dança, alegria simples. Um Sorriso. Sorriso que vem envelhecendo em alta velocidade há dezesseis anos, e não por acaso. Inversão! Sangue que tem sido dado. Em troca: descaso.



'Mas...'



Quieto. Não há espaços para ilusão, aqui, neste apartamento.

4 comentários:

Felipe disse...

Esse pequeno excerto lembra alguma coisa de Clarice. Começa com uma esperança e termina melancólico, como um dia frio, um dia em que as pessoas guardam as alegrias e se lembram das tristezas.

Abraço Fê!

Babi disse...

Seus posts andam muito trsites, me dão um aperto no coração, sabia... essa desilusão, descaso, melancolia...

Sinayoma disse...

Fe, que triste!
Me senti triste como o texto!
Se precisar conversar, já sabe!

Beijinhos
Gabi

Glauber disse...

Foi convidado a um aniversário na ZL?