8 de abr. de 2007

Domingo de Páscoa.

Domingo de Páscoa. Os céus celebram um ano de seu recebimento.

Há um ano a terra perdia para os céus seu sorriso singelo e incomum, brilhante e quadradinho, de beleza infantil e ternura divina. Há um ano a família P. perdia um pequeno, a familia P. perdia a unidade, já frágil e constantemente ameaçada por sí própria, visto que em verdade nunca fôra conquistada. Há um ano a família P. perdia aquele pedaço tão intenso de vida, desfeito em lágrimas entornadas de maçã e soja.

Ainda me lembro de tê-lo pego no colo (recém-nascido e bebê), de seus pequenos primeiros - célebres primeiros - passos. De suas tão pequenas, irregulares e lindas orelhinhas, os dedinhos fofinhos que pareciam bananinhas-ouro, como os do pai... Me lembro da alegria da renovação causada pela nova linhagem dos P., os Pequenos, ele e outros dois pequenos... Me lembro dos avós alegres, de casas em festa, da bajulaçãozinha, dos mimos... Me lembro de como, envergonhado, encostava-se na parede e ia andando, lindo, de lado, com as mãozinhas para trás... e um olhar de indescritível ternurinha. Me lembro de uma urna branca, de pesares, de fardos de dor. E uma comitiva de anjos guiando a carreata fúnebre.

Sua ida impôs um temor imenso sobre outros P.'s genitores. E uma tristeza, a grande tristeza... Uma certa tristeza que vem e volta, uma tristezinha melancólica e incurável... A tristeza da privação daquilo que ainda não se havia tido. Nesses momentos não importam outras questões. Nada mais importa. Não importa a distância, não importa onde estão... Eu só queria as pessoas que amo juntinho de mim, e para sempre. Eu apenas quero, simplesmente espero, que possa tê-los eternamente, estar ao seu lado eternamente.


Domingo de Páscoa. Qual a tua beleza?
Aprecio bastante dias de chuva.

(Um arco-íris. Não simplesmente um arco-íris, mas dois, e não em um comum céu-azul de pós-chuva, sim um céu maciço de núvens vermelho-alaranjadas. Magnífico. o contraste tão agudo aos olhos de suas cores contra aquele céu laranja-acinzentado de nuvens, contra o prédio branco-envelhecido ao lado. É como se toda a atmosfera sorrisse. Já não venta e a chuva parou. Apenas l'arc en ciel. E as nuvens alaranjadas. Há alguns pedacinhos que podem ser tentativas de céu azul, exibindo as mais belas formas abstratas, exibindo os apêndices das nuvens que outrora pareciam trazer apenas aquela gravidade da química humana. O céu se torna um complexo arranjo de cores em tons de lilás e laranja, todos de extrema luminescência e delicadeza. A alegria de um fim-de-tarde em um Domingo de Páscoa. O arco, efêmero, se foi com o brilho das nuvens. Me sombram os cinzas, os negros, os ventos. O azul não aparece. A chuva voltou.)

Um comentário:

Sinayoma disse...

Fê!
Tenha certeza de que onde quer que ele esteja ele está feliz por vc ter lembrado dele!

E, embora eu não seja religiosa, acredito na pureza das crianças e a imagem do anjo é perfeita para descrevê-las. Pode ter certeza de que ele é um anjo.

Lembro dessa história...quando vc me contou no ano passado! Fiquei bem tristinha pela linhagem P.

Mas tenha certeza de que, embora nos vivamos de incertezas, o melhor de tudo é viver!

Tchüss, querido!