1 de mar. de 2008

Uma Visão

Por mais que tentasse não podia me prender às suas laterais. Não havia como subir ou fugir. Em volta me dilacerava a pele pedacinho por pedacinho, tornando uma mistura lilás o sangue que de mim escorria com a parede. Cheguei ao fundo, e para cima o que via eram só pedaços que haviam flutuado naquele espesso ar embriagado. Foram caindo pouco a pouco, me tocaram a carne-viva como se fossem realmente ainda parte, um toque do próprio toque. Os pelos daquelas paredes, ouriçados, gritavam ensurdecedoramente enquanto uivava o vento que passava lá em cima, de onde caí sem perceber. Os sussurros das moções da morte rondavam minha cabeça crua, enquanto mais e mais pedaços se juntavam. Aquele liquido incolor e salgado que escorria pelas laterais eu não entendia, e tentava ao mesmo passo decifrar o lugar onde caí: um vão entre a desilusão e a morte, uma imensidão vazia, em branco. Um coração. Não sabia o que fazer dentro dele.

2 comentários:

Felipe disse...

Belas palavras, Fernando!
O tom melancólico toma conta do texto. Dá uma grande aflição. A mistura de sensações e cores, os sons.

Parabéns!

Abraços amigos do Felipe!

Unknown disse...

Bom texto fe!

o estilo lírico e ao mesmo tempo com traços dramáticos,dão uma intensidade ao texto de forma que o leitor se introduz na aflição do narrador!(coecei bem o curso hein!)
a personificação do ar embriagado foi fantástica!me lembra um poema que tenho para a prova da semana q vem"Ar pesado"...

congratulations!