Cave Amantem...
"Seja como for, é impossível ver alguma coisa mais perfeita do que o corpo dessa Vênus, algo mais suave, mais voluptuoso do que seus contornos, algo mais elegante e mais nobre do que o seu drapeado. Eu estava esperando uma peça do Baixo Império; e vi uma obra-prima da melhor época da estatuária. O que mais me impressionava era a primorosa verdade das formas, de modo que dava pra pensar que eram modeladas pela natureza, se a natureza produzisse modelos tão perfeitos.
A cabeleira, repuxada sobre a fronte, parecia ter sido, antigamente, dourada. A cabeça, pequena como a de quase todas as estátuas gregas, estava ligeiramente inclinada para a frente. Quanto ao rosto, jamais conseguirei expressar a sua estranha aparência, e cujo tipo não se aproximava de nenhuma estátua antiga de que me lembrasse. Não era essa beleza calma e austera dos escultores gregos, cuja regra era dar a todas as feições uma imobilidade majestosa. Aqui, ao contrário, eu observava surpreso a intenção manifesta do artista de reproduzir a malícia chegando às raias da maldade. Todas as feições estavam levemente contraídas: os olhos meio oblíquos, a boca alteada nos cantos, as narinas um pouquinho inchadas. Porém, nesse rosto de inacreditável beleza liam-se desdém, ironia, crueldade. No fundo, quanto mais se olhava para essa estátua admirável, mais se tinha a penosa sensação de que uma beleza tão maravilhosa pudesse se aliar à ausência total de sensibilidade.
"Se o modelo existiu um dia", disse a Monsieur de Peyrehorade, "e duvido que o céu tenha jamais produzido uma mulher dessas, como sinto pena de seus amantes! Ela deve ter se deliciado em fazê-los morrer de desespero. Há em sua expressão alguma coisa de feroz, e no entanto jamais vi nada tão bonito."
"Se o modelo existiu um dia", disse a Monsieur de Peyrehorade, "e duvido que o céu tenha jamais produzido uma mulher dessas, como sinto pena de seus amantes! Ela deve ter se deliciado em fazê-los morrer de desespero. Há em sua expressão alguma coisa de feroz, e no entanto jamais vi nada tão bonito."
(fragmento de "A Vênus de Ille", Prosper Mérimée)
Um comentário:
"Ela deve ter se deliciado em fazê-los morrer de desespero."
Já provou desse desespero fer? digo, desse tipo que fala o texto?!
Acho q eu já, e idiota que somos...é ruim, mas viciante.
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